foto Ana Luísa Alvim
ainda nos faltará tudo:
o azeite na almotolia,
um alfabeto que descreva com outra firmeza o azul,
formas indivisíveis para este amor,
que só em fragmentos
e numa gramática imprecisa
conseguimos viver.
Quando despontarem as primeiras luzes
estaremos talvez longe:
à altura dos olhos continuaremos a trazer a mesma indisfarçável solidão
as mesmas mediações ilegíveis através do tempo
as mesmas demoras tatuadas.
O Seu advento encontra-nos sempre impreparados
e, contudo, este é o momento em que
por puro dom se nasce.
A Sua vinda testemunha o que não sabíamos ainda:
a nossa frágil humanidade é narração
da autobiografia de Deus.
José Tolentino Mendonça
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