quarta-feira, 31 de maio de 2006

jerusalém

Num universo dominado pela loucura, “Jerusalém”, a cidade e o lugar mítico, funciona neste livro como metáfora para a construção de uma possível e prometida "terra dos homens", em que se debate o conhecimento do humano. Gonçalo M. Tavares, o autor dos livros negros, onde este se incluí, convida à reflexão e transporta para a ficção personagens de um mundo estranho, incerto e desassossegado. Personagens que deambulam num manicómio, outra personagem que escreve uma tese sobre a origem do horror, seres defeituosos, assassinato...
Acabei de ler um livro que venceu o Prémio LER/ millennium bcp no ano de 2004, e o Prémio José Saramago 2005. O vencedor do nobel, José Saramago, considera este livro como já pertencendo à grande literatura ocidental.
Está nas estantes da Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco.
Vivam as bibliotecas com livros negros bem vivos.

terça-feira, 30 de maio de 2006

sobe montanhas

O escritor Inácio Pignatelli esteve hoje com jovens leitores na biblioteca e contou-lhes as histórias "O pastor de nuvens" e o "Sobe-montanhas".
O Sobe-montanhas era uma gigante que tinha a função de guardar as montanhas do seu país, daí o seu nome, pois tinha que subir e descer as montanhas para confirmar a sua existência, para além de as contar diariamente.
A partir deste texto, o escritor passou ao diálogo com os miúdos, e defendeu que todos sejam gigantes na vida, mesmo que nos esperem vidas pacatas e tenhamos talentos menores.
O "Sobe- montanhas" é um bom texto literário, que permite, para além da leitura de uma simples história, reflectir sobre a nossa vida e o mundo.
Vivam as bibliotecas que sobem montanhas !

sexta-feira, 26 de maio de 2006

há uma árvore de gotas em todos os paraísos

O universo poético de Herberto Helder é dos meus preferidos. Se mergulhar dificilmente nado noutras águas.
No balcão de atendimento da Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco, temos o Poemário, uma oferta de leitura de um poema aos utilizadores, editado pela Assírio e Alvim. Hoje é a vez do poeta Herberto Helder, com este poema :
"Há uma árvore de gotas em todos os paraísos.
Com o rosto molhado,
eu posso ficar com o rosto molhado,
com os olhos grandes.
Neste lugar absoluto pelo sopro,
fervem as víboras de ouro aos nós
sobre as pedras enterradas. Leopardos
lambem-nos as mãos giratórias.
E eu abro a pedra para ver a água estremecendo.
A água embebeda-me.
Como nos corredores de uma casa brilha o ar,
brilha como entre os dedos.
- A minha vida é incalculável."
In : Ou o poema contínuo.
Vivam as bibliotecas vivas.

canon in D

Johann Pachelbel, músico e compositor (1653-1706), escreveu Canon in D (em Ré Maior), que é a peça barroca mais interpretada até aos dias de hoje, por diversos músicos e orquestras, e tornou-se num tema de um filme, e recentemente música de fundo da publicidade à Coca-Cola.
O Canon in D é originalmente uma peça musical de repetições feita para 3 violinos e um violoncelo contínuo, o tema vai sendo repetido individualmente pelos 3 violinos, e o resultado é ouvirmos melodias harmonicamente sobrepostas.
Os jovens músicos, da Gulbenkian de Braga, imprimiram a partitura da net, fascinados pelo anúncio já citado. Parece-me que preferem o fundo musical à bebida!
A Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco tem o CD nº196 "Pachelbel´s Canon", pela English String Orchestra, que pode ser escutado aqui ou emprestado para se ouvir em nossas casas.
Como sou uma felizarda, já hoje o ouvi, na redução para piano, logo pelas 8h00, tocado pela jovem pianista Mariana, em minha casa.
Vivam as bibliotecas vivas.

quinta-feira, 25 de maio de 2006

ilhas da morabeza

Os escritores de Cabo Verde, da terra crioula, surgiram na biblioteca. Saíram das estantes da ilha-mãe Santiago e deleitaram-se pelas ilhas com nomes de santos e nomes poéticos : sal, fogo, brava, tartarugas, maio, boa vista, S. Vicente, S. Antão, S. Nicolau e S. Luzia.
A literatura africana de expressão portuguesa é muito querida nesta biblioteca que tem um bom catálogo com os escritores mais representativos destas ilhas : Germano de Almeida, José Evaristo d´Almeida, Manuel Lopes, Luís Romano, Manuel Ferreira, Teixeira de Sousa, Orlanda Amarilis e Baltazar Lopes.
Boas leituras.

terça-feira, 23 de maio de 2006

árvore livreira

Uma árvore igual e diferente de tantas outras, só que é regada com letras, as folhas têm palavras escritas e os frutos são livros.
Dois “jardineiros”, gostam de ler histórias à sombra da árvore, colhem um livro, cheiram-no e lêem-no.
Um dia a árvore dá um bom livro maduro para ler “O Romance da Raposa” de Aquilino Ribeiro, os contadores de histórias lêem um capítulo do romance muito divertido.
A Salta-pocinhas, raposa matreira, esteve na nossa biblioteca !

sexta-feira, 19 de maio de 2006

eupeu apamopo tepe

Eupeu apamopo tepe. Amo-te.
Foi um recital de poesia sensorial, na biblioteca, com casa cheia e onde o amor foi gritante. O amor é a verdade. O Paulo e a Anabela não querem adiar o amor para o outro sépécupulopo e disseram-nos que o amor está onde estiver está dentro de um girassol de uma oração um berço uma caixa de costura um intestino um pulmão.
Viva a poesia nas bibliotecas vivas.

quarta-feira, 17 de maio de 2006

trabalho vivo, com a Cristina

Recordo o encontro de Rilke com Rodin, já falado aqui no 21 de Abril. O jovem poeta foi visitar o escultor, não para lhe perguntar pela sua arte, mas para lhe colocar a questão decisiva : "Como se deve viver?"
Rodin respondeu-lhe : "Trabalhando".
Esta palavra iluminou Rilke e anos mais tarde afirmou que "trabalhar é viver sem morrer".
Hoje lembro-me muito da Cristina, com quem trabalho há muitos anos, e a quem desejo muitos tempos em comum de trabalho, mas trabalho verdadeiramente vivo.

segunda-feira, 15 de maio de 2006

o fogo

Convocam-se as fadas verdes, o Noddy, os gnomos da floresta, os dinossauros e o cotãozinho para a festa de anos do jotinha.
O menino que apagou o "fogo" com a mãe.
Parabéns ao meu mais doce menino.

sexta-feira, 12 de maio de 2006

acontece na rede

O culminar do trabalho do "Acontece na Rede" (rede de bibliotecas escolares e biblioteca municipal) realizou-se hoje, sob o tema "20 anos de Integração de Portugal na União Europeia", com uma conferência, teatro e exposição. A conferência do Prof. Doutor José Palmeira foi de tantas estrelas como as dos estados membros.
Aprendemos todos.
Oxalá Portugal explore melhor a ideia, defendida pelo conferencista, acerca de que Portugal tem um espaço aéreo estratégico e tem um mar potencial a ser utilizado por centrais de energia.
Vivam as bibliotecas do espaço da união.

quinta-feira, 11 de maio de 2006

silka, sebastião, o meu avô e o guardador de nuvens

Manuela Bacelar, "Sebastião"

Manuela Bacelar, envolta da sua mágica Praga, com os dedos ainda repletos de brilhantes, chegou a Famalicão, terra das suas origens, e veio à biblioteca municipal. Uma exposição com as ilustrações da famosa "Silka" de Ilse Losa, portadoras do Prémio Maçã de Ouro da Bienal Internacional de Bratislava, "O meu avô", "Sebastião" e o "Guardador de Nuvens" de Inácio Pignatelli, são algumas que podemos saborear.

quarta-feira, 10 de maio de 2006

couves & alforrecas

valter hugo mãe enviou-me este email. Isto passa-se em Portugal, depois do 25 de Abril de 1974.
"PROVIDÊNCIA CAUTELAR
MARGARIDA REBELO PINTO / OFICINA DO LIVRO

VS

JOÃO PEDRO GEORGE / OBJECTO CARDÍACO

Na passada Terça-feira, dia 2 de Maio, realizou-se a audiência das testemunhas arroladas pelos requentes e requeridos neste procedimento judicial.
Por parte dos requerentes (MRP/OL), foram ouvidos os Senhores Gonçalo Saraiva (amigo e leitor de MRP), Renato Carrasquinho (colaborador do site oficial de MRP) e Marcelo Teixeira (editor da OL); por parte dos requeridos foram ouvidos Maria do Rosário Pedreira (editora e escritora), Eduardo Pitta (escritor e crítico literário) e Rui Tavares (professor, escritor e ensaísta). Os requeridos prescindiram ainda da audição de duas outras testemunhas, por uma questão de economia processual, que seriam David Justino (ex-Ministro da Educação e Professor) e Manuel Alberto Valente (editor das Edições Asa).

É nossa convicção de que, após a devida audiência das testemunhas, ainda mais notória se revelou a ausência de qualquer tipo de agressão a direitos legalmente constituídos por terceiros pela a publicação da obra «Couves & Alforrecas, Os Segredos da Escrita de Margarida Rebelo Pinto».
Sustentando a sua posição na eminência de se violarem três tipos de direitos, os requerentes interpuseram a famosa providência cautelar, no entanto, de modo profundo, verificou-se, em nosso entender, que tais violações não ocorrerem. Assim,

1.º possibilidade de se agredirem os Direitos de Personalidade da autora MRP:
é notório que o livro de JPG não ultrapassa o universo literário, sendo que todo o seu contexto se limita estritamente à avaliação da obra da autora estudada. Não existem referências de carácter pessoal, sendo inegável que o estudo de JPG se dirige a uma perspectivação determinada da obra sobre que se debruçou.

2.º possibilidade de se agredirem os Direitos de Autor da autora MRP:
os requerentes terão pretendido dar como insustentáveis as citações que JPG faz da obra da autora estudada. No entanto, as citações estão expressamente tipificadas na lei – isto é, estão previstas e expressamente autorizadas pelo legislador nacional –, e só se tornam efectivamente excessivas quando, pela quantidade, comportam substancialmente a obra original citada. Ou seja, seria necessário que as citações de JPG ultrapassassem um limite tal que – em relação a qualquer dos 8 livros sobre que incide «Couves & Alforrecas, Os Segredos da Escrita de Margarida Rebelo Pinto» – reproduzissem substancialmente a obra estudada.

3.º possibilidade de se agredirem os Direitos de Propriedade Industrial de MRP:
sendo que o nome da autora é também uma marca registada, pretenderam os requerentes ver na sua citação por parte de JPG uma utilização indevida. Pretensão esta que não colhe uma vez que o direito à marca apenas se agride quando o produto que se lhe opõe passa por um original. Ou seja, o livro de JPG estaria em falta se quisesse passar por um original da autora sobre que incide. De facto, não há no livro de JPG qualquer possibilidade de se confundir com um romance ou um conjunto de crónicas de MRP, o livro assinala manifestamente a autoria de JPG, não pretendendo nunca confundir o leitor sobre o assunto de que trata, sobre quem é o seu autor e sobre quem é autor estudado.
O impedimento da utilização de um nome registado seria insustentável. Para o podermos entender consideremos os exemplos destes livros: «Coca-Cola Killer», do maestro António Vitorino D’Almeida (Edições Prefácio); «Mama, Coca, Coca-Cola, Cocaína: Três Pessoas numa Droga Só, Notas para um Ensaio Sobre a Eco-Nomia Política do Narcotráfico» de René Tapia Ormazabal (Editorial Caminho); e «Quando A Coca-Cola fez Trezentos Anos – Porno-Ficção Sem Crianças nem Animais» de Rui Filipe Torres (Edições Dolly).
Uma marca registada não impede nunca o estudo sobre si, impede apenas a criação de um produto que se queira fazer passar pelo legítimo detentor da marca em causa.

Perante tais evidências, a providência cautelar interposta contra JPG/OC foi, em nosso entendimento, um acto precipitado prevendo a ocorrência de violações que simplesmente nunca estiveram para acontecer.
Na verdade, a queixa dos requerentes ia no sentido de acusarem «Couves & Alforrecas, Os Segredos da Escrita de Margarida Rebelo Pinto» de provocarem uma quebra nas vendas dos livros da autora MRP e, conforme declarado por Marcelo Teixeira em tribunal, as vendas da autora estão a correr de modo excelente, sendo que, em menos de um mês, o livro «Diário da tua ausência» vendeu 20.000 (vinte mil) exemplares estando para qualquer momento a chegada da tipografia de uma nova tiragem de mais 10.000 (dez mil) exemplares.

Também é um facto que o livro «Couves & Alforrecas, Os Segredos da Escrita de Margarida Rebelo Pinto» terá vendido mais do que os 1.000 (mil) exemplares da sua tiragem inicialmente prevista; deve-se isto exclusivamente à publicidade que a interposição da providência cautelar provocou. Até ao momento, foram entregues à Sodilivros (distribuidora da OC) cerca de 3.000 (três mil) exemplares do livro de JPG.
A providência cautelar que MRP/OL interpuseram é o primeiro acto judicial desde o vinte e cinco de Abril de 1974 que tenta impedir a publicação e venda de um livro de crítica literária.

É nossa convicção de que a obra da autora MRP, e sobretudo o seu impacto no público, tem que ver com um fenómeno social. Não é a qualidade literária inerente ao que escreve que justifica o fenómeno de vendas, é antes um processo atinente à sociologia, como se verifica pelo envolvimento largamente promotor com a imprensa genericamente chamada de cor-de-rosa. De facto, poucos serão os autores que, como MRP, aparecerão no modo e quantidade com que esta aparece naquele tipo de imprensa. Pensando melhor, em Portugal nenhum outro autor aparece, no mesmo modo e com a mesma insistência, naquele tipo de imprensa de massificada distribuição. Sendo que a sua obra raramente merece atenção por parte da crítica e publicações especializadas; coisa que desgostou a autora MRP, levando-a a afirmar em várias entrevistas que gostaria de ver algum crítico propriamente dito a versar sobre a sua obra."




terça-feira, 9 de maio de 2006

quantos queres ?

As palavras frias não são para nós.
As palavras queimaram, de tanto borbulhar nas mãos dos meninos, quando a Rute e o Miguel estiveram, nas bibliotecas escolares, a brincar com os provérbios populares e a fazer os "quantos queres ?"
Um sucesso. Resposta : Queremos muito mais !
Parabéns e muita força para estes jovens actores que deviam estar sempre em palco.
Vivam as bibliotecas e o Teatro !

segunda-feira, 8 de maio de 2006

ratinho musical

O Ivo Machado musicou poemas de Luísa Ducla Soares e de Vergílio Alberto Vieira. Todos os meninos do 1º ano do agrupamento Bernardino Machado leram os poemas, ouviram as músicas e, com as suas professoras e o professor bibliotecário Manuel Oliveira, coreografaram e apresentaram um espectáculo na Biblioteca Municipal.
Foi hoje. Gostei muito da chinesinha e do ratinho musical. Os meninos portaram-se como na Arca do Noé. Muito bem.
Vivam as bibliotecas musicais !

sábado, 6 de maio de 2006

o princípio do equilíbrio

Picasso / House in a Garden (House and Trees) La Rue-de-Bois, August 1908 (or Paris, winter 1908) Oil on canvas 92 x 73 cm Pushkin Museum
Canção de Inverno II
No momento em que ouvi o último acorde, levantei-me e regressei a casa. Pensava, enquanto caminhava, quanto era triste o que ouvi, mas como era bela a forma como foi silenciada a canção de Inverno. Tudo, por vezes, se me apresenta gelado e, num golpe de sorte, tudo permanece radiante e luminoso. Pleno de graças, como o pianista, na sua solidão, pleno de quietude.
As árvores à volta da casa, a casa não está às escuras. Há janelas abertas e iluminadas. Entro e ouve-se sempre música, as paredes estão pintadas com gatos gigantes, árvores com ramos que espreitam pelas janelas e pessoas paradas a olhar para mim. Algumas estão sentadas, outras são do passado e transmitem o desejo de viver para sempre. Há livros por todo o lado, mesmo rente ao tecto. Todos nesta casa gostam de histórias vivas.
Os degraus que sobem e descem, retrato exemplar de toda uma vida, terminam sempre no patamar perfeito, no renascer executado em todas as alturas em que chego ao fundo de um poço, e como numa imagem da água a jorrar, venho à tona e renasço.
No quarto maior iluminado, há um berço onde dormem três anjos. Para cada um tenho um sonho que obstinadamente faço crescer todos os dias. Dormem com a música que lhes canto com o meu respirar, quando acordam querem correr no céu laranja atrás dos livros, que alguém lhes disse que estavam destinados nas estrelas.
Para eles tenho uma herança de paz e de eternidade que abandono em todas as minhas palavras e sempre que toco nos seus corpos. São o meu reflexo, quando nos fotografamos juntos temos os rostos iguais e os nossos corações têm o mesmo batimento. Somos unos, eu e os meus filhos, nesse grande quarto iluminado, onde o mundo é tão solar.
No centro da casa está o princípio do equilíbrio que mantém a minha vida feliz.

sexta-feira, 5 de maio de 2006

quando um bibliotecário faz anos

Nem só as bibliotecas fazem anos, os bibliotecários que lá trabalham também envelhecem.
Para o Hilário, desejo muitos anos de vida, dentro das bibliotecas vivas, ou melhor, que ele transforme as adormecidas em luminosas.
Bibliotecas sem paredes coloridas mas com muitos poemas, nas paredes, escritos.
"como um lago o poema
não repete reflecte"
Gastão Cruz
Vivam os bibliotecários das bibliotecas vivas que reflectem o mundo.

quinta-feira, 4 de maio de 2006

o pão partilhado, para a Glória

Tantos anos juntos, dentro de uma biblioteca, tantas riquezas partilhadas a que não demos importância.
Uma palavra, um gesto, as flores, e no outro dia o pão partilhado.
Como terra ressequida, a precisar de água dos afectos, abri o livro que tinha uma só palavra.
Basta uma migalha, Glória, para perceber o que está escrito.

quarta-feira, 3 de maio de 2006

as três meninas

"As tês meninas" Luísa Correia Pereira
díptico, técnica mista sobre tela 228x146 cm
legenda:
Uma praia. Uma praia num lugar distante com areia esbranquiçada gasta pelas torturas sanguinolentas. A areia foi escavada e no mais fundo do fundo estão os corpos decepados para não mais serem amados.
Tiraram-lhes o corpo. Ficaram as cabeças ainda ensanguentadas pelo corte que lhes fizeram, que rolam pela areia. As cabeças estão muito bem penteadas com fitas coloridas e as algas entrecruzam-se neste crime de sangue torturado.
As cabeças têm o medo branco estampado nos rostos. São parecidos os rostos, irmãos na morte e vivos na inocência. Como conchas ovais, moluscos enterrados e dilacerados, espalhados pelo espaço.
Eram três meninas.
Uma onda lavou o último rasto de sangue.

terça-feira, 2 de maio de 2006

cem sonetos de amor

Ao entrar na biblioteca, de manhã, observo sempre os livros que chegaram do empréstimo. Todos os dias há sempre um livro certo para mim. Hoje, dia 2 de Maio, o livro que me encontrou foi o "cem sonetos de amor" de Pablo Neruda. Mando-o para o JJ.

"aqueles bruscos rios com águas e ameaças,
aquele atormentado estandarte da espuma,
aqueles incendiários favos e recifes.

são hoje este repouso do teu sangue no meu,
este leito estrelado e azul como a noite,
esta simplicidade sem fim da ternura."

segunda-feira, 1 de maio de 2006

as intermitências da morte

"Por um instante a morte soltou-se a si mesma, expandindo-se até às paredes, encheu o quarto todo e alongou-se como um fluido até à sala contígua, aí uma parte de si deteve-se a olhar o caderno que estava aberto sobre uma cadeira, era a suite número seis opus mil e doze em ré maior de johann sebastian bach composta em cothen e não precisou de ter aprendido música para saber que ela havia sido escrita, como a nona sinfonia de beethoven, na tonalidade da alegria, da unidade dos homens, da amizade e do amor. Então aconteceu algo nunca visto, algo não imaginável, a morte deixou-se cair de joelhos, era toda ela, agora, um corpo refeito..."
José Saramago In "As intermitências da morte".
A morte, que intermitente, está nas nossas vidas, só vencida pela música, a suite nº6 para violoncelo de J.S.Bach, e pelo amor vivido em alegria, é a morte fabulosa do Saramago.
Continuo a acreditar na vida eterna e nas bibliotecas de Alexandria.
Vivam as bibliotecas que têm este livro.