quinta-feira, 30 de novembro de 2006

Blogues

Alguns organizadores de blogues, no domínio da Ciência da Informação, vão reunir-se durante o 9º Congresso Nacional de Bibliotecários, Arquivistas e Documentalistas, para reflectir, concluir, abanar as opiniões, etc. no Painel "Weblogues no domínio da Ciência da Informação", às 16:30, de 29 de Março, na sala 3, organizado e coordenado por mim.
Agradeço aos colegas o quanto tenho aprendido com eles : Adalberto Barreto, Júlio Anjos, Maria Clara Assunção, Paulo Jorge Sousa e Pedro Príncipe, que participarão neste painel, e a muitos outros que também animam a blogosfera.
Vivam os blogues vivos.

Programa provisório Congresso BAD

quarta-feira, 29 de novembro de 2006

nas farmácias espanholas

O Estado português sugere um Plano Nacional de Leitura. Excelente. Os espanhóis "receitam" livros no Plano de Fomento de Leitura da Extremadura, ao converter os espaços de todas as farmácias da região em locais onde se pode encontrar folhetos sobre livros para o público infantil, juvenil e adulto. Os folhetos têm indicação da composição, indicações, posologia, precauções e outras informações sobre os livros. Biblioterapia? Eu acredito. Ler durante as aulas? Oxalá as crianças consigam engolir a pastilha.
Vivam as bibliotecas vivas.

meditar sobre a esperança


"A esperança anuncia que vai visitar aquele lugar do futuro, que viaja nua, deixando caídas no chão as roupas que hoje estão na moda. Leva consigo apenas uma boa dose de optimismo e explica que os optimistas podem vir a se enganar mas os pessimistas já se enganaram no ponto de partida."

Rosiska Darcy de Oliveira,
In A Dama e o Unicórnio,
2000

terça-feira, 28 de novembro de 2006

ler amar

"On lit comme on aime, on entre en lecture comme on tombe amoureux : par espérance, par impatience. [...] trouver le sommeil dans un seul corps, toucher au silence dans une seule phrase."

In
Une petite robe de fête
Christian Bobin

segunda-feira, 27 de novembro de 2006

Entre nós e as palavras, os emparedados

Cesariny 1923-2006
"...
Ao longo da muralha que habitamos
Há palavras de vida há palavras de morte
Há palavras imensas, que esperam por nós
E outras frágeis, que deixaram de esperar
Há palavras acesas como barcos
E há palavras homens, palavras que guardam
O seu segredo e a sua posição

Entre nós e as palavras,surdamente,
As mãos e as paredes de Elsenor

E há palavras e nocturnas palavras gemidos
Palavras que nos sobem ilegíveis à boca
Palavras diamantes palavras nunca escritas
Palavras impossíveis de escrever
Por não termos connosco cordas de violinos
Nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
E os braços dos amantes escrevem muito alto
Muito além da azul onde oxidados morrem
Palavras maternais só sombra só soluço
Só espasmos só amor só solidão desfeita

Entre nós e as palavras, os emparedados
E entre nós e as palavras, o nosso dever falar."


sexta-feira, 24 de novembro de 2006

tomei o pequeno livro e comi-o

"A voz do Céu, que eu, João, tinha ouvido, falou-me novamente, dizendo: «Vai buscar o livro aberto da mão do Anjo que está de pé sobre o mar e sobre a terra». Fui ter com o Anjo e pedi-lhe que me desse o pequeno livro. Ele disse-me: «Toma-o e come-o: no estômago, ele será amargo, mas na boca, ele será doce como o mel». Tomei o pequeno livro da mão do Anjo e comi-o: na minha boca era doce como o mel; mas depois de o engolir, amargou-me no estômago. Então disseram-me: «Tens de profetizar novamente contra muitos povos, nações, línguas e reis»."
Livro do Apocalipse 10, 8-11

quarta-feira, 22 de novembro de 2006

o universo de Camilo

Para responder a muitos pedidos, cá vai uma menção ao Camilo, ao universo do escritor. Agora que estou tão perto dos seus livros, da sua casa, do seu quintal...
Posso dar-me ao luxo de estar à janela do seu quarto. O que vejo? Não vejo com os olhos dos últimos tempos de Camilo. Ele estava cego. A sua vida é a sua obra, num entrelaçar intenso que espero absorver.
O que vejo? Oferece-me uma contemplação panorâmica de uma Vida e de muitas vidas, daqui da minha janela bem em frente à Casa de Seide.
Estou aqui para transformar uma biblioteca.
Vivam as bibliotecas vivas.

segunda-feira, 20 de novembro de 2006

book cell

O Projecto BooK Cell, de Matej Krén, está instalado no átrio do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão. O artista empilha milhares de livros numa estrutura arquitectónica em que somos convidados a entrar. É construído a partir de livros editados pela Fundação Gulbenkian ao longo de 50 anos, a memória e o saber acumulados nos livros reunidos, fechados e inacessíveis, diversos e preciosos serão potencialmente recuperados no final, quando todos puderem regressar à sua função de ser lidos.
A instalação é um recinto hexagonal com uma passagem definida por espelhos que asseguram a vertigem da queda, a desmultiplicação ad infinitum, o pânico da desorientação espacial próprios de um infinito virtual.
Uma sensação de desorientação.
Hoje é assim mesmo que me sinto, dentro desta instalação.
Vivam as bibliotecas vivas.

quinta-feira, 16 de novembro de 2006

a biblioteca de D. Manuel II

Nas Conferências do Cenáculo, que hoje terminam, em Évora, gostei imenso de ouvir falar, o Drº João Ruas, sobre a Biblioteca de D. Manuel II. Já a conhecia, do célebre Catálogo que o próprio rei escreveu, investigou e elaborou com a secretária-bibliotecária inglesa, durante o exílio em Londres. São 3 volumes (o último publicado já depois da sua morte, em 1932). É uma obra de referência essencial sobre a tipografia portuguesa do século XV e XVI.
Toda a sua biblioteca foi testamentada à Fundação Casa de Bragança, em Vila Viçosa. Continua a ter tratamento real e sempre que posssível aumentada com exemplares da tipografia quatrocentista e quinhentista.
Hoje fazem 117 anos que D. Manuel II nasceu. Parabéns a este amante dos livros.
Vivam as bibliotecas vivas.

segunda-feira, 13 de novembro de 2006

grandes autores para pequenos leitores

Os Encontros Luso-Galaico-Franceses do livro infantil e juvenil estão prestes a começar no Porto. Não podia ser melhor tema : grandes autores para pequenos leitores. Sempre fui adepta deste lema na promoção da leitura.
Viva as bibliotecas vivas.

no cenáculo, em Évora

O Fundo azul da Biblioteca Pública de Évora, o espólio bibliográfico de Frei D. Manuel do Cenáculo, a biblioteca de D. Manuel II do Palácio de Vila Viçosa, os Manifestos de Carvalho Travassos e as Miscelâneas de Vasco de Carvalho, da Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco, os documentos fabulosos e magníficos que existem nas nossas bibliotecas são para serem conhecidos e estudados.
Os bibliotecários e investigadores têm realizado exposições, conferências e lutado por uma melhor divulgação destes documentos.
As III Conferências do Cenáculo em Évora, no dia 14 e 15 de Novembro, são mais um esforço de dar a conhecer o nosso património cultural bibliográfico.
Vivam as bibliotecas vivas.

Programa das III Conferências do Cenáculo


quinta-feira, 9 de novembro de 2006

as asas do desejo

O céu sobre Berlim, as asas do desejo. Hoje senti-me dentro deste filme, de Wim Wenders, com os anjos, na célebre Staatsbibliothek zu Berlin. Já o vi, pelos menos, há 18 anos e fui-o revendo ao longo ds vida. Agora sou eu mesma que estou dentro da biblioteca, a passear nas magníficas salas de leitura, a encontrar-me com a memória, com Homero, com os leitores, com a Palavra. Os anjos do filme não podem intervir nos acontecimentos do mundo. Há um que se deixa cair, na Potsdamer Strasse. Desejaria que as minhas asas permanecessem no interior da biblioteca.
Vivam as bibliotecas vivas.

quarta-feira, 8 de novembro de 2006

sem Deus, sang diû

Sem Deus, Sang diû, é o nome da neta do senhor Linh, uma menina-boneca do Oriente, refugiada no colo do avô, num país distante. O exilado senhor Linh não compreende a língua nem a cultura, mas faz uma amizade com um homem solitário, uma amizade eterna.
Este livro, que terminei de ler já alguns dias, é uma fábula sobre a solidariedade, o saber dar atenção, o "dar o tempo todo" a alguém, em silêncio e com pequenos gestos. É uma fábula sobre a humanidade.
O livro é do francês Philippe Claudel.


helena laranjeiro

O texto do posting anterior é de autoria da minha amiga bibliotecária Helena Laranjeiro. Agora que o tempo é todo dela escreve pequenas histórias verdadeiras, pedras preciosas no nosso dia-a-dia. Deliciem-se.
Vivam as bibliotecárias.

um pouco do meu tempo todo


fotografia de Helena Laranjeiro
Eu seguia rente às casas pelo passeio estreito, rasando os peitoris das janelas postas sobre a rua. Numa delas, um rosto sulcado pelos anos, mas a que a idade não retirara vida, oferecia-se, sereno, a quem passava, enquanto o canário, na gaiola ao lado, desfrutava a visão do que não tinha no espaço a que se via confinado.
A manhã ia a caminho do meio sob um sol de Primavera que pousava mansamente nas fachadas e o meu dia enchia-se de pequenos nadas. Foi quando decidi parar e dar-lhe um pouco do meu tempo todo para preencher o todo tempo dela e, daí a nada, já me abria a porta, depois de recolhido o canário e fechada a acessibilidade da janela.
No pátio apontou com carinho os canteiros e os muros atapetados com centenas de conchas pela mão paciente do marido e destacou o nicho com a imagem da Senhora de Fátima que mantinha acesa a fé com que ele o havia construído.
Lamentou o gato de barro com as pernas partidas à entrada da cozinha e ergueu a tampa do tacho que sobre o fogão lhe guardava a comida.
Mostrou-me a copa com uma pequena mesa onde seria posto um único prato e levou-me, orgulhosa, à sala de jantar enfeitada com as rendas do seu crochetar.
Na salinha o televisor conversava com o canário e no quarto que fora do casal havia recordações por todo o lado: a ausência das bonecas cuja lembrança não quis guardar e a presença dos peluches que ainda sentia gosto em conservar. Mas mais que tudo a sua fotografia quando rapariga e a do marido antes da partida.
Chamava-se Francisca, tinha 85 anos e, desde que ficara só da noite para o dia, ia gerindo a saudade e a solidão como sabia. A lida da casa era toda sua, com pequenas costuras pelo meio, tudo ao som bem alto do televisor que lhe dava a ilusão de um companheiro. As tardes, essas, eram para o sol da Avenida onde achava casuais conversas e assegurava às pombas a comida.
Perdera a esperança do calor de um gato, ficando-se pela companhia de um canário, mas do fundo do peito saía-lhe ainda o gemido de um cântico que nunca esquecera e falava do amor por ela guardado para os filhos que nunca tivera.
Quando me reconduziu à porta, trazia sorrisos a passear nos caminhos do rosto e as suas mãos, apertando as minhas, faziam-se demorar, como se receasse quebrar os nós do frágil laço acabado de atar.
A ela não disse nada, não fosse desiludi-la com o meu falhar, mas a mim mesma prometi que iria voltar.


Helena Laranjeiro
Braga, 8 de Maio de 2006

segunda-feira, 6 de novembro de 2006

gregor samsa

O valter hugo mãe, meu poeta e amigo, expõe na Galaria Símbolo (Rua Miguel Bombarda, Porto) o rosto naive e nítido de Gregor Samsa. A personagem fantástica da Metamorfose, do Kafka. Está tudo dito. A palavra também padece de metamorfose e a imagem é a palavra.

www.galeriasimbolo.com

a flor da alegria

A escritora Manuela Monteiro telefonou-me e ofereceu-me a verdadeira flor da alegria. As coisas que me disse, neste momento difícil da minha vida, foram as essenciais. Amanhã não estarei presente, na Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco, no lançamento do livro, mas estaremos sempre juntas neste projecto, em construção, de um mundo melhor através da leitura das histórias que estão nos livros.


"O dragão, indeciso, coçou com as suas fortes garras a cabeça coberta de escamas e, mais brando, disse:
- É bonito isso da Amizade! Olha, poderás subir ao pico mais alto das Montanhas para colheres a Flor da Alegria, mas terás de vencer três provas muito difíceis para mostrares que és mesmo amigo da Rosalinda. É que a Amizade não é coisa fácil, sabes?"

in A Flor da Alegria de Manuela Monteiro, Campo das Letras, 2006