segunda-feira, 1 de maio de 2006

as intermitências da morte

"Por um instante a morte soltou-se a si mesma, expandindo-se até às paredes, encheu o quarto todo e alongou-se como um fluido até à sala contígua, aí uma parte de si deteve-se a olhar o caderno que estava aberto sobre uma cadeira, era a suite número seis opus mil e doze em ré maior de johann sebastian bach composta em cothen e não precisou de ter aprendido música para saber que ela havia sido escrita, como a nona sinfonia de beethoven, na tonalidade da alegria, da unidade dos homens, da amizade e do amor. Então aconteceu algo nunca visto, algo não imaginável, a morte deixou-se cair de joelhos, era toda ela, agora, um corpo refeito..."
José Saramago In "As intermitências da morte".
A morte, que intermitente, está nas nossas vidas, só vencida pela música, a suite nº6 para violoncelo de J.S.Bach, e pelo amor vivido em alegria, é a morte fabulosa do Saramago.
Continuo a acreditar na vida eterna e nas bibliotecas de Alexandria.
Vivam as bibliotecas que têm este livro.

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