20 Janeiro 2010
Diário 1: sabe bem pensar no Henrique Barreto Nunes. foi bom trabalhar com ele, duma bondade extrema. a minha paixão pela leitura pública foi ele que nas aulas me contagiou. sou bibliotecária por causa dele, entre muitas mais coisas. uma dádiva de vida. sabe bem homenagear alguém que vive muito. e que quer recomeçar de novo a ser.
21 Janeiro 2010
Diário 2: hoje lembro-me do telefone vermelho que o Henrique Barreto Nunes tinha em cima da secretária no Largo do Paço. no meu gabinete em frente ao dele ouvia-se tocar o telefone vermelho. usa sempre palavras mágicas nas conversas. nunca ninguém foi desatendido nas audições coloridas daquele telefone. hoje não tem telemóvel! talvez alguém lhe ofereça um daquela cor.
22 Janeiro 2010
Diário 3: fui com o Henrique BN de comboio para Lisboa, para participarmos na conferência internacional bibliotecas para a vida. narrou-me tantos projectos e sonhos que fiquei sem respiração. não precisamos de casas e bibliotecas para estarmos vivos. a vida é que precisa de homens assim para manter vivas as bibliotecas.
23 Janeiro 2010
Diário 4: um dia, na Biblioteca Pública de Braga, logo pela manhã tinha um bombom em cima da secretária. todas as mulheres da biblioteca também tinham! era uma homenagem doce às mulheres que o HBN inventou. ficamos amolecidas até hoje. foi no 8 março de 1993. oxalá continue a “achocolatar” muitas bibliotecárias por aí !!!!
24 Janeiro 2010
Diário 5: a porta do seu gabinete abriu-se muitas vezes e uma presença real levou-me a fazer descobrimentos, a ler e a ler. Um dívida eterna tenho a alguém que, pelos consentimentos, pelas visões, pelas partilhas, me deixou perder na imensidão e nos segredos da Biblioteca Pública de Braga.
25 Janeiro 2010
Diário 6: os livros mais antigos que a Biblioteca Pública de Braga possui são os incunábulos. foi por causa deles que me cruzei com o Henrique Barreto Nunes. um dia descobri um incunábulo dentro de uma encadernação de um outro livro de outro século. só um amante de livros se pode comover com esta revelação. o amor pelos livros é comparável a qualquer outro amor. comovemos-nos. deu lugar a festejos, nas ficções do meu pensamento, e ao HBN também.
26 Janeiro 2010
Diário 7: acabei de receber o texto do Henrique Barreto Nunes “Leve um livro para a cama”. Quem se lembra deste artigo que ele publicou no Correio do Minho? Amanhã publico no blogue da Homenagem. Esteve afixado no meu gabinete da Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco muito anos. “Ler, às vezes, é quase tão bom como…”
27 Janeiro 2010
Diário 8: as políticas de leitura pública em Portugal. as orientações conceptuais e programáticas sobre as bibliotecas a criar. a rede nacional de leitura pública. a contaminação deste sonho a muitos bibliotecários seus alunos, colegas e amigos. o entusiasmo e o ânimo com que se passam as urgências. que mais é que herdamos e testemunhamos?
28 Janeiro 2010
Diário 9: livros proibidos no regime fascista. O HBN fez-me apaixonar por este tema. muitas prateleiras e catálogos de bibliotecas vasculhei à procura dos livros da lista negra. fizemos uma exposição que circulou por várias bibliotecas. publicamos estudos e bibliografias. hoje, em nome da liberdade de expressão, HBN continua a lutar e a ensinar-nos os caminhos de uma distinta cidadania.
29 Janeiro 2010
Diário 10: as bibliotecas e a memória da vida local, a descoberta dos fundos locais das bibliotecas, a importância dos leitores na orientação da missão das bibliotecas. aprendemos muito com a sua intervenção cívica, com os seus textos, com as suas aulas. continuamos, com alma, a sua pro…vocação: “a biblioteca… um amor de toda a vida, um amor para toda a vida.”
30 Janeiro 2010
Diário 11: repetidamente disse ao longo da vida “quero o impossível!”
31 de Janeiro 2010
Diário 12: o HBN ofereceu-me as Rimas de Camões, a reprodução fac-similada da edição de 1598. foi no meu último dia de trabalho na Biblioteca Pública de Braga. escrevia nas Rimas que esperava, em breve, o meu regresso definitivo à biblioteca e que juntos poderíamos trabalhar na sua renovação, mantendo a identidade e a memória. que gosto me deu este suave pensamento de grandes esperanças, no decorrer dos anos que foram passando. a vida não nos cruzou mais na BPB. e sábio, Camões escrevia que “segundo o que o Céu me tem mostrado, já sei que deste meu buscar ventura, achado tenho já que não a tenho”. no mundo quis o tempo que se achasse o bem assim.
1 de Fevereiro 2010
Diário 13: de manhã chegava ao meu gabinete e falava das leituras que fizera à noite. lia romances de amor, agora mais livros policiais. enunciava o clube dumas, e outros títulos. muitos autores, como Arturo Pérez-Reverte, Assis Pacheco, Manuel Vázquez Montálban, Garcia Lorca… um dia chegou completamente extasiado. ordenou-me que tinha que ler HOJE “o velho que lia romances de amor”. às vezes, regresso a esta casa distante e lembro-me das urgências das leituras partilhadas, do fascínio das palavras que podemos dividir com os outros. a vida pode ser percorrida com pessoas que nos elevam.
3 de Fevereiro 2010
Diário 14: escreveu centenas de páginas, reabilitou poetas, defendeu causas, criou documentos que deram origem e fizeram viver a rede de leitura pública. combateu em muitas frentes, ensinou (como um mestre) muitos bibliotecários. no email de despedida dizia que “ainda tinha tanto que fazer…”. quando recebi esse email soube logo que agora é que há tanto para ele escrever, reabilitar, lutar, criar, fazer viver, combater, ensinar. temos muito ainda a esperar. ele vai continuar a homenagear-nos com o seu humilde triunfo sobre este mundo.
5 Fevereiro 2010
Diário 15: no final da mesa das comunicações sobre a web 2.0, durante o Congresso Bibliotecas para a Vida, em novembro passado, alguém na plateia pediu a palavra e disse: “com estes desafios para as bibliotecas e para os leitores, eu queria voltar a trabalhar e recomeçar de novo”.
há homens assim seduzidos para sempre pelas bibliotecas e pelos seus leitores. recomeçar de novo… estou grata pela sabedoria e pela vida que nos continua a dar hoje, amanhã e sempre.
PS
Fui com um prazer enorme que criei e editei o blogue da homenagem ao Henrique Barreto Nunes (almoço sábado). Uma honra. Dezenas de textos, estudos, intervenções públicas, manifestos. Muitos testemunhos e depoimentos chegaram para publicação sobre este homem feliz. É muito bom ser sua colega e amiga. Depois disto tudo s ó faltava que abrisse uma conta no Facebook. ;) Não me admira… Leve um livro para a cama é a sua especialidade !!! :D
Luísa Alvim
Diário 1: sabe bem pensar no Henrique Barreto Nunes. foi bom trabalhar com ele, duma bondade extrema. a minha paixão pela leitura pública foi ele que nas aulas me contagiou. sou bibliotecária por causa dele, entre muitas mais coisas. uma dádiva de vida. sabe bem homenagear alguém que vive muito. e que quer recomeçar de novo a ser.
21 Janeiro 2010
Diário 2: hoje lembro-me do telefone vermelho que o Henrique Barreto Nunes tinha em cima da secretária no Largo do Paço. no meu gabinete em frente ao dele ouvia-se tocar o telefone vermelho. usa sempre palavras mágicas nas conversas. nunca ninguém foi desatendido nas audições coloridas daquele telefone. hoje não tem telemóvel! talvez alguém lhe ofereça um daquela cor.
22 Janeiro 2010
Diário 3: fui com o Henrique BN de comboio para Lisboa, para participarmos na conferência internacional bibliotecas para a vida. narrou-me tantos projectos e sonhos que fiquei sem respiração. não precisamos de casas e bibliotecas para estarmos vivos. a vida é que precisa de homens assim para manter vivas as bibliotecas.
23 Janeiro 2010
Diário 4: um dia, na Biblioteca Pública de Braga, logo pela manhã tinha um bombom em cima da secretária. todas as mulheres da biblioteca também tinham! era uma homenagem doce às mulheres que o HBN inventou. ficamos amolecidas até hoje. foi no 8 março de 1993. oxalá continue a “achocolatar” muitas bibliotecárias por aí !!!!
24 Janeiro 2010
Diário 5: a porta do seu gabinete abriu-se muitas vezes e uma presença real levou-me a fazer descobrimentos, a ler e a ler. Um dívida eterna tenho a alguém que, pelos consentimentos, pelas visões, pelas partilhas, me deixou perder na imensidão e nos segredos da Biblioteca Pública de Braga.
25 Janeiro 2010
Diário 6: os livros mais antigos que a Biblioteca Pública de Braga possui são os incunábulos. foi por causa deles que me cruzei com o Henrique Barreto Nunes. um dia descobri um incunábulo dentro de uma encadernação de um outro livro de outro século. só um amante de livros se pode comover com esta revelação. o amor pelos livros é comparável a qualquer outro amor. comovemos-nos. deu lugar a festejos, nas ficções do meu pensamento, e ao HBN também.
26 Janeiro 2010
Diário 7: acabei de receber o texto do Henrique Barreto Nunes “Leve um livro para a cama”. Quem se lembra deste artigo que ele publicou no Correio do Minho? Amanhã publico no blogue da Homenagem. Esteve afixado no meu gabinete da Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco muito anos. “Ler, às vezes, é quase tão bom como…”
27 Janeiro 2010
Diário 8: as políticas de leitura pública em Portugal. as orientações conceptuais e programáticas sobre as bibliotecas a criar. a rede nacional de leitura pública. a contaminação deste sonho a muitos bibliotecários seus alunos, colegas e amigos. o entusiasmo e o ânimo com que se passam as urgências. que mais é que herdamos e testemunhamos?
28 Janeiro 2010
Diário 9: livros proibidos no regime fascista. O HBN fez-me apaixonar por este tema. muitas prateleiras e catálogos de bibliotecas vasculhei à procura dos livros da lista negra. fizemos uma exposição que circulou por várias bibliotecas. publicamos estudos e bibliografias. hoje, em nome da liberdade de expressão, HBN continua a lutar e a ensinar-nos os caminhos de uma distinta cidadania.
29 Janeiro 2010
Diário 10: as bibliotecas e a memória da vida local, a descoberta dos fundos locais das bibliotecas, a importância dos leitores na orientação da missão das bibliotecas. aprendemos muito com a sua intervenção cívica, com os seus textos, com as suas aulas. continuamos, com alma, a sua pro…vocação: “a biblioteca… um amor de toda a vida, um amor para toda a vida.”
30 Janeiro 2010
Diário 11: repetidamente disse ao longo da vida “quero o impossível!”
31 de Janeiro 2010
Diário 12: o HBN ofereceu-me as Rimas de Camões, a reprodução fac-similada da edição de 1598. foi no meu último dia de trabalho na Biblioteca Pública de Braga. escrevia nas Rimas que esperava, em breve, o meu regresso definitivo à biblioteca e que juntos poderíamos trabalhar na sua renovação, mantendo a identidade e a memória. que gosto me deu este suave pensamento de grandes esperanças, no decorrer dos anos que foram passando. a vida não nos cruzou mais na BPB. e sábio, Camões escrevia que “segundo o que o Céu me tem mostrado, já sei que deste meu buscar ventura, achado tenho já que não a tenho”. no mundo quis o tempo que se achasse o bem assim.
1 de Fevereiro 2010
Diário 13: de manhã chegava ao meu gabinete e falava das leituras que fizera à noite. lia romances de amor, agora mais livros policiais. enunciava o clube dumas, e outros títulos. muitos autores, como Arturo Pérez-Reverte, Assis Pacheco, Manuel Vázquez Montálban, Garcia Lorca… um dia chegou completamente extasiado. ordenou-me que tinha que ler HOJE “o velho que lia romances de amor”. às vezes, regresso a esta casa distante e lembro-me das urgências das leituras partilhadas, do fascínio das palavras que podemos dividir com os outros. a vida pode ser percorrida com pessoas que nos elevam.
3 de Fevereiro 2010
Diário 14: escreveu centenas de páginas, reabilitou poetas, defendeu causas, criou documentos que deram origem e fizeram viver a rede de leitura pública. combateu em muitas frentes, ensinou (como um mestre) muitos bibliotecários. no email de despedida dizia que “ainda tinha tanto que fazer…”. quando recebi esse email soube logo que agora é que há tanto para ele escrever, reabilitar, lutar, criar, fazer viver, combater, ensinar. temos muito ainda a esperar. ele vai continuar a homenagear-nos com o seu humilde triunfo sobre este mundo.
5 Fevereiro 2010
Diário 15: no final da mesa das comunicações sobre a web 2.0, durante o Congresso Bibliotecas para a Vida, em novembro passado, alguém na plateia pediu a palavra e disse: “com estes desafios para as bibliotecas e para os leitores, eu queria voltar a trabalhar e recomeçar de novo”.
há homens assim seduzidos para sempre pelas bibliotecas e pelos seus leitores. recomeçar de novo… estou grata pela sabedoria e pela vida que nos continua a dar hoje, amanhã e sempre.
PS
Fui com um prazer enorme que criei e editei o blogue da homenagem ao Henrique Barreto Nunes (almoço sábado). Uma honra. Dezenas de textos, estudos, intervenções públicas, manifestos. Muitos testemunhos e depoimentos chegaram para publicação sobre este homem feliz. É muito bom ser sua colega e amiga. Depois disto tudo s ó faltava que abrisse uma conta no Facebook. ;) Não me admira… Leve um livro para a cama é a sua especialidade !!! :D
Luísa Alvim
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