sexta-feira, 28 de abril de 2006

namíbia

Quando vêm à biblioteca os escritores é sempre uma festa. Desta vez a Maria José Meireles convidou os meninos a dançar música árabe e só depois é que falaram sobre o seu último livro "A Lenda das Mouras encantadas".
Ao almoço, faço sempre para que os escritores falem da sua escrita, das histórias que têm na cabeça e de como vão trabalhar um determinado tema. Hoje, por acaso, falamos de férias e de viagens. Nunca me tinha esquecido da viagem que Maria José Meireles fez à Namíbia e da descrição que me tinha feito daquelas paragens e gentes. Quando nasce o livro? Recontou-me as cores da terra, o mar gelado, a areia escaldante, o deserto, os pinguins na praia, as tribos vestidas de barro, a savana, os milhares de refugiados angolanos que pairam pelas campos a quem se tenta ensinar português. Um país em África para ver.
Nas bibliotecas, brevemente, vamos ter um livro sobre este povo. A escritora vai viajar novamente pelo papel.

terça-feira, 25 de abril de 2006

o livro de dentro para fora

O Dia Mundial do Livro na Biblioteca Nacional está a ser comemorado com uma mostra fotográfica sobre o interior da instituição e como ela se revela e se oferece aos leitores com o que de mais precioso conserva. Onde estão os livros, como é que eles se arrumam e se encontram, porque estão numa determinada estante, que elementos entram na sua construção. Construída de dentro para fora, invisível e silenciosa, quotidiana e pertinaz, a pedir o reconhecimento quando se celebra o livro. O conteúdo e o suporte. A biblioteca, um lugar de encontro entre os que exploram no livro a informação e o conhecimento e os que detêm a responsabilidade pela disponibilização física do livro. Todos os dias de cada ano.
Viva a biblioteca.

segunda-feira, 24 de abril de 2006

agostinho da silva

Agostinho da Silva, nasceu no Porto em 1906. Foi considerado o pensador do terceiro milénio.
Estudou, em Paris, História e Literatura na Sorbonne e no Collège de France, com uma bolsa de estudos. Em 1933 regressou a Portugal e tornou- se professor do ensino secundário público, no Liceu de Aveiro. No ano seguinte, é demitido do ensino público por se recusar, por uma questão de princípio, a assinar uma declaração obrigatória para os funcionários públicos.
Publica centenas de opúsculos “Iniciação – Cadernos de Informação Cultural”, em que apresentava aos leitores temas de discussão sobre tudo. Num destes cadernos em que abordou o Cristianismo, tocando em assuntos tabu, foi preso e precipitou-o para o exílio.
A Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco possui muitas destas pequenas publicações, recentemente encontradas por mim, numa miscelânea de textos dactilografados e manuscritos no fundo dedicado ao Esperanto.
Viva a biblioteca viva.

o que hoje, dia S. Jorge, não disse

Comemoramos mais uma vez, na Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco, o Dia Mundial do Livro. Desde 1996, que o fazemos, alguns anos com mais empenho, outros de uma forma mais leve.
Ao abrir, a sessão da tarde, abdiquei de dizer o que gostaria a todos os presentes, por razões que ultrapassam o coração.
Aqui vai o que não disse e que gostaria de transmitir a todos os que lá estavam :

Hoje domingo 23 de Abril, dia de S.Jorge, estamos na biblioteca a ouvir falar de livros e de histórias. Esta data foi escolhida, pela UNESCO, para comemorar o "Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor" e pretende recuperar uma velha tradição catalã segundo a qual, neste dia, os cavaleiros oferecem às suas damas uma rosa vermelha de S. Jorge e recebem em troca, um livro. Partilhar os livros e as flores, não deixa de ser uma acto simbólico de cruzamento do saber com a natureza, com o amor e a paixão. Prestamos também homenagem a dois grandes escritores falecidos, neste dia, Shakespeare e Cervantes.
Hoje aqui reunidos, as famílias, pais e filhos, os professores, os bibliotecários e o público em geral que gosta de livros, criamos uma cadeia “espiritual” de amor pelos livros e por tudo o que eles significam.
Oxalá os pais consigam, na vida agitada de hoje, ler mais aos seus filhos. Os professores, com o tempo apertado para os currículos, possam incentivar a actos de transposição do texto literário para o teatro ou para outras formas artísticas, como a dramatização de um texto de António Mota, pelos alunos aqui presentes. Os bibliotecários, com a multiplicidade de tarefas em que estão submersos, consigam ter tempo para ler aos seus jovens utilizadores, consigam incentivar à leitura e fazer descobrir os tesouros que as bibliotecas têm nas suas estantes.
No dia mundial do livro infantil, um escritor eslovaco dizia que os livros têm o seu destino marcado nas estrelas. Todo juntos, numa comunidade composta pelas famílias, escola e biblioteca vamos criar um destino melhor para os mais novos, com o livro por perto.
O nosso muito obrigada aos alunos da escola nº2 de V.N. Famalicão, e à sua professora Marcela, que aqui estão para nos fazer sonhar com esta “galinha medrosa”, que julga que o céu lhe vai cair na cabeça.
Os livros fazem-nos saber mais, e o mais importante ainda, fazem-nos imaginar-sonhar, que é o poder maior que existe no mundo.
O céu da galinha e o S. Jorge, santo do dia, farão vir dias melhores para os livros, que já estão destinados nas estrelas.

sábado, 22 de abril de 2006

maratona das bibliotecas


Festejamos a existência dos livros e do direito de autor, no dia 23 de Abril. Em Portugal conhecida como a Maratonas das Bibliotecas. Festejamos muitas, nesta biblioteca.
A deste ano é apelidada de "Primavera de Livros". Todos, os que por cá trabalham nesta biblioteca, chegaram a horas, os horários foram cumpridos.
O livro mais vendido na Feira do Livro de Saldo foi o : "Inverno do nosso descontentamento".
É urgente mudar de estação.
Quero uma biblioteca viva.

sexta-feira, 21 de abril de 2006

o poeta rilke e o artista rodin

aguarela de Rodin
O escultor Auguste Rodin, com 62 anos, cruzou a sua vida com o poeta Rilke.
Rilke, cuja mulher tinha sido aluna do escultor, visitou-o em Paris, em 1902, e tornou-se ser secretário (1905-06). Rodin era já um reconhecido artista e Rilke um poeta em formação. Foi crucial este encontro. O poeta dedica-lhe mais tarde o livro os "Novos Poemas".
Têm um livro juntos "Momentos de Paixão", com aguarelas de Auguste Rodin e poemas Rainer Maria Rilke (editado Relógio d´Água, 2004).
“Por metade chamo-te, por metade aparto-te de mim,
para não perturbar o belo encantamento;
ao escutar-te os pulsos, digo-me:
não estarás aqui?”.
Está na lista dos meus livros preferidos.
Chegou hoje à Biblioteca.
Viva a biblioteca.

quinta-feira, 20 de abril de 2006

para acordar o silêncio

Terminou o curso de escrita criativa, na biblioteca. São quarenta novos escritores que beberam e encheram o depósito de gasolina. O que faz alguém escrever? Porque escrevemos? Porque escrevemos para os outros lerem?
Escrevemos por tantas razões que é sempre muito belo ouvi-las da boca dos outros. Porque estamos vivos. Para dar brilho às coisas. Para todos os dias serem manhãs. Para erguer o coração. Para que os outros deslizem de mansinho. Para mudar de estação. Para acordar o silêncio. Para nos destruirmos. Para renarcermos.
Vivam as bibliotecas.

quinta-feira, 13 de abril de 2006

para me manter vivo


para te manteres vivo - todas as manhãs
arrumas a casa sacodes tapetes limpas o pó e
o mesmo fazes com a alma - puxas-lhe brilho
regas o coração e o grande feto verde-granulado

deixas o verão deslizar de mansinho
para o cobre luminoso do outono e
às primeiras chuvadas recomeças a escrever
como se em ti fertilizasses uma terra generosa
....

Al Berto

sexta-feira, 7 de abril de 2006

o cavalo alado azul


Gostaria que a minha biblioteca fosse um cavalo alado azul e pudesse sair desta prisão que lhe querem conferir.
Vivam as bibliotecas livres.

quinta-feira, 6 de abril de 2006

a lâmpada, os livros

Ontem Fernando Alves, no seu SINAIS - TSF, disse :

"A lâmpada, os livros
Ainda às voltas com papéis antigos, recortes de jornais guardados e nunca usados, encontro uma notícia na Folha de São Paulo de Janeiro de 2004. O metro da Cidade do México acabara de lançar uma operação de empréstimo de livros de tal dimensão que o jornal fizeram um título cheio de cor. «Metrô mexicano vira biblioteca circulante». Lê-se e fica-se a querer muito que corra bem, que o livro apanhe a boleia justa, que a carruagem motora puxe por ele, o conduza ao cais mais iluminado."
(09:05 06 de Abril 06)
Vivam as bibliotecas a circular!

quarta-feira, 5 de abril de 2006

nos açores


O 9º Congresso Nacional de Bibliotecários, Arquivistas e Documentalistas, subordinado ao tema «Bibliotecas e arquivos : informação para a Cidadania, o Desenvolvimento e a Inovação» vai-se realizar em Ponta Delgada (Açores), entre 29 e 31 de Março de 2007.
Se lá formos é preciso ir ver a Biblioteca Central da Universidade dos Açores, no Campus Universitário de Ponta Delgada. Um espectáculo ! Será que é funcional? Mas é muito bonita!
Vivam as bibliotecas dos Açores.

segunda-feira, 3 de abril de 2006

o destino dos livros está escrito nas estrelas


Mensagem do 2 de Abril
Dia Internacional do Livro Infantil

o destino dos livros está escrito nas estrelas
Ján Uličiansky

Os adultos perguntam com frequência o que acontecerá aos livros quando as crianças deixam de os ler.
Talvez esta seja uma resposta:
«Nós carregá-los-emos todos em enormes naves espaciais e enviá-los-emos para as estrelas!»
Uau...!
Os livros são realmente como estrelas num céu nocturno. Há tantos, não podem ser contados e frequentemente estão tão longe de nós que não ousamos procurá-los. Mas imaginem só como ficaria escuro se um dia todos os livros, esses cometas no nosso universo cerebral, partissem e cessassem de fornecer essa energia ilimitada da imaginação e do conhecimento humanos...
Valha-nos Deus!
Vocês dizem que as crianças não podem compreender uma ficção científica como esta?! Muito bem, eu viajarei para a terra e permitir-me-ei recordar os livros da minha própria infância. De qualquer maneira, isto é o que me veio à mente quando eu estava a olhar para a Ursa Maior, a constelação a que nós, Eslovacos, chamamos «Grande Carroça», porque os meus livros mais preciosos me chegaram numa carroça... Isto é, não chegaram inicialmente a mim, mas à minha mãe. Foi durante a guerra.
Um dia, estava ela à beira da estrada quando passou chocalhando uma carroça – uma carroça de feno atulhada de livros e puxada por uma parelha de cavalos. O condutor disse à minha mãe que estava a transportar os livros da biblioteca da cidade para um lugar seguro, para impedir que fossem destruídos.
Nesse tempo a minha mãe era ainda uma menina pequena, ansiosa por ler, e à vista daquele mar de livros os olhos dela iluminaram-se como estrelas. Até então só tinha visto carroças cheias de feno, palha ou talvez estrume. Para ela uma carroça cheia de livros era como algo saído de um conto de fadas. Arranjou coragem para pedir:
«Por favor, não poderia dar-me ao menos um livro dessa grande pilha?»
O homem sorriu, assentiu, saltou da carroça abaixo, desatou um dos lados e disse: «Podes levar para casa todos os que caírem no caminho!»
Alguns volumes caíram ruidosamente na estrada poeirenta, e pouco depois aquela estranha carroça já tinha desaparecido numa curva da estrada. A minha mãe apanhou os livros, com o coração a bater furiosamente de excitação. Depois de lhes limpar o pó, verificou que entre eles, perfeitamente por acaso, havia uma edição completa dos contos de Hans Christian Andersen. Nos cinco volumes de várias cores não existia uma única ilustração, mas aqueles livros iluminaram milagrosamente as noites que a minha mãe tanto temia. Isso acontecia porque durante aquela guerra ela tinha perdido a sua própria mãe. Quando lia aqueles contos ao serão, cada um deles era para ela um pequeno raio de esperança, e com uma imagem tranquila no coração, pintada com pestanas meio fechadas, podia adormecer sossegadamente, pelo menos durante um bocado...
Os anos sucederam-se e aqueles livros passaram para mim. Eu levo-os sempre comigo pelas poeirentas estradas da minha vida. De que poeira é que eu falo, perguntam vocês?
Ah!
Talvez eu estivesse a pensar na poeira de estrelas que se instala nos nossos olhos quando nos sentamos numa cadeira a ler numa noite escura. Isto é, se estivermos a ler um livro. No fim de contas, nós podemos ler todo o tipo de coisas. Uma face humana, as linhas da palma de uma mão, e as estrelas...
As estrelas são livros num céu nocturno e iluminam a escuridão.
Sempre que eu duvido se vale a pena escrever mais um livro, contemplo o céu e digo para mim próprio que o universo é realmente infinito e que ainda deve haver lugar para a minha pequena estrelinha.
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Ján Uličiansky nasceu em 1955 em Bratislava. Tendo estudado dramaturgia, é autor de peças de teatro e contista, tendo sido director do Teatro de Marionetas de Košice e trabalhando actualmente como dramaturgo na rádio eslovaca. Diversas vezes premiados, os seus livros para crianças parecem buscar uma nova coerência na relação entre a lógica infantil e a lógica adulta. Humor, paródia, aventura são aspectos recorrentes na sua escrita, que explora de modo criativo o ludismo verbal. Dos seus livros destacam-se As Ilhas dos Bonecos de Neve (1990), Temos a Ema (1993), Histórias Extraordinárias dos Sete Mares (2003) e Um Rapaz Mágico (2005).
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Versão portuguesa: José António Gomes
Autor do cartaz: Peter Čisárik